Deixa a gente adivinhar: você quer captar mais recursos para a sua ONG, certo?
Já vamos adiantando que isso é, SIM, possível! Existem muitas fontes de recursos disponíveis! Mas esse recurso não vai cair do céu.
Para que a sua organização consiga acessar permanentemente os recursos necessários para o funcionamento, é muito recomendado que ela esteja estruturada para isso.
Mas o que seria essa tal “estruturação”?
Podemos dividir a estruturação de uma organização para captar recursos em um tripé: orçamento definido, projetos escritos e responsável pela captação.
Sem algum desses três elementos básicos é muito possível que a busca por recursos fique comprometida e não gere os resultados esperados.
Para te ajudar neste ciclo de estruturação, vamos falar um pouco melhor a seguir sobre cada um desses pilares.
Ah, um ponto importante: essa estruturação será efetiva se a sua organização for formalizada. Se ela ainda não tiver CNPJ próprio, formalize a sua ONG.
Responsável pela captação
Em primeiro lugar, é importante decidir quem na organização será responsável por captar recursos.
Você pode ter lido isso e pensado “Mas nós não temos dinheiro para ter um captador exclusivo!”.
Isso é verdade para a enorme maioria das ONGs do Brasil. Elas são compostas por pouquíssimas pessoas, muitas vezes apenas a fundadora, e é irreal achar que alguém vai se dedicar apenas à captação.
Mas, repare, aqui não falamos de um profissional especialista dedicado, apenas de ter alguém que lidere essa frente e que seja responsabilizado pelos resultados.
Determinar essa liderança faz parte da boa gestão de uma ONG. Se a responsabilidade ficar dividida, sem um líder, é muito possível que os esforços se dissipem e virem frustração em breve, ameaçando os resultados.
O que fazer para estruturar este pilar?
A seguir traremos algumas sugestões de como chegar a esta pessoa responsável.
Promova alguém da sua ONG
O primeiro – e mais simples – caminho é empoderar alguém que já está na sua organização.
Esta é, sem dúvida, a solução mais barata e mais rápida. Além disso, o risco é baixíssimo. Você já conhece a pessoa e se está dando a ela esta responsabilidade é porque imagina que ela tenha condições de entregar resultados.
Contrate alguém em início de carreira
Outra solução muito comum é trazer um profissional em começo de carreira e formá-lo em captação de recursos na própria organização.
Neste caso, o importante é que seja alguém que tenha interesse em fazer carreira nesta área. No início, a pessoa provavelmente ganhará pouco e enfrentará as desilusões inerentes a todo ciclo de captação de recursos.
Se a pessoa visualizar nesse ciclo uma oportunidade de crescimento futuro, certamente estará mais propensa a enfrentar isso e persistir.
Contrate alguém fazendo transição de carreira
Se você não tem ninguém dentro da própria organização que considere apto a se especializar na captação de recursos nem quer contratar um profissional em início de carreira, sugiro trazer alguém em processo de transição.
Muitas pessoas, depois de certo tempo trabalhando em mercados “tradicionais”, têm a vontade de migrar para o terceiro setor.
São pessoas com mais idade e certa trajetória, que buscam novos significados.
A vantagem dessa solução é que você contratará um profissional já experiente, com uma percepção mais aguçada dos seus pontos fortes e fracos.
Uma dica: escolha o perfil certo
Como você deve ter notado, temos duas possibilidades: ou você vai contratar alguém para captar recursos ou esta responsabilidade será abraçada por alguém da própria organização.
Um consultor pode te ajudar? Sem dúvida consultoria para captação de recursos ajuda, mas não soluciona tudo sozinha.
Em qualquer um dos cenários é FUNDAMENTAL que a pessoa responsável por liderar esta frente tenha o perfil certo.
Captação de recursos é uma atividade de longo prazo que requer persistência e foco. Por isso, alguém que não tenha o perfil adequado logo poderá se desestimular e desistir – ou, pior, ficar na função sem apresentar resultados.
Mas qual seria este perfil?
O “perfil certo” depende das estratégias que você vai usar. Mas vamos dizer que há dois perfis principais:
Uma pessoa que goste de relacionamentos
A maioria das estratégias que você irá utilizar demandarão uma pessoa com perfil articulador, que goste de criar e manter relacionamentos em longo prazo.
Este perfil será muito favorável para, por exemplo, pedir dinheiro para empresas ou indivíduos.
Esta pessoa deve ter um perfil mais ou menos assim:
- Ser comunicativa;
- Gostar de fazer reuniões e participar de eventos;
- Ter facilidade em criar uma extensa rede de relacionamentos de longo prazo;
- Não se importar em pedir.
Uma pessoa técnica/analítica
Mas será que a captação de recursos é uma área restrita para articuladores? Com certeza não!
Um outro perfil muito interessante é a pessoa analítica.
Em algumas estratégias como, por exemplo, editais, esta pessoa será muito útil para fazer inscrições detalhadas e precisas.
Um perfil mais ou menos assim:
- Prefere produzir sozinha;
- Tem boa escrita e leitura;
- Gosta de analisar detalhes;
- É perfeccionista, tem prazer em entregar algo sem erros.
Gaste o tempo que for necessário para encontrar as pessoas certas. Esta é a etapa mais importante.
Pessoas certas com uma estratégia equivocada conseguem corrigir rumos e ajustar resultados. Por outro lado, pessoas sem o perfil necessário não funcionarão nem com o melhor planejamento do mundo.
Projetos escritos
Os seus projetos já estão no papel, escritos e quantificados?
Ou ainda estão acontecendo no dia a dia e claros apenas na sua cabeça?
Para ter uma captação de recursos sustentável, você deve saber PARA QUE precisará do recurso. E essa resposta não virá sem antes você colocar no papel quais são os seus projetos, os objetivos, custos, métricas de impacto etc.
O que fazer para estruturar este pilar?
Neste ponto não tem muito milagre: você precisará sentar e escrever com detalhes os projetos executados pela sua ONG.
A escrita de projetos é um tema muito debatido no terceiro setor. Há várias metodologias e profissionais muito competentes que desenvolvem suas carreiras exclusivamente executando essa tarefa.
Como você provavelmente precisará fazer isso por conta própria, veja quais são os elementos básicos de um projeto, para que você possa escrever os seus.
Se quiser saber com mais detalhes sobre este assunto, temos um post voltado exclusivamente para montar um projeto de captação de recurso.
Defina o problema.
A primeira pergunta a ser respondida é: o seu projeto precisa MESMO existir? Ele busca resolver um problema real ou apenas um incômodo seu?
O momento de montar a justificativa é o de olhar para fora. Tirar um pouco o foco da organização e colocá-lo no mundo, para compreender o problema em sua dimensão maior.
Busque dados oficiais, números e converse com especialistas. Não se esqueça de falar também com potenciais beneficiários, ou seja, aqueles que vivenciam a realidade que você quer transformar.
Depois que você fizer uma apuração adequada, é hora de colocar a sua justificativa no papel. Escreva os dados consolidados da sua pesquisa, mostrando a amplitude do problema e como a iniciativa pretendida por você pretende solucioná-lo.
Uma justificativa bem escrita, além de te dar mais segurança sobre o projeto, ainda funciona como um excelente argumento para captar recursos.
Defina a solução.
A “solução” é a parte em que você apresenta o seu projeto. Ela pode ser dividida em:
Apresentação
Apresente de maneira genérica a sua ideia. Evite se alongar muito ou usar termos técnicos.
Como funciona
Hora de falar um pouco sobre como você pretende chegar lá! Este é também um item onde você deve ser bem claro e objetivo. Exponha como o projeto será na prática e quais atividades serão desenvolvidas. Novamente, não se aprofunde em termos técnico, terminologias ou jargões.
Outros detalhes envolvidos
- Participantes – Detalhe quem são as pessoas da organização envolvidas no projeto.
- Região do projeto – Insira o local em que o projeto será desenvolvido. Por mais que ele esteja aberto a pessoas de todo Brasil, sem discriminação, há sempre uma ou mais sedes.
- Público do projeto – Defina qual público você pretende atingir. Deixe clara a idade dos beneficiários, sua condição socioeconômica e a localidade.
- Cronograma de atividades – Faça uma tabela com cada um dos meses em que o projeto ocorrerá e as atividades a serem executadas.
Como a solução será avaliada?
Uma vez que o projeto seja necessário e esteja bem estruturado, como você vai avaliar se ele está efetivamente funcionando?
- Estabeleça objetivos – Elabore entre três e cinco objetivos pretendidos.
- Crie indicadores – Como o nome diz, indicadores servem para indicar. Neste caso, indicar que o objetivo está ou não sendo cumprido.
- Estabeleça metas – Onde você quer chegar com o projeto, de forma quantificada
Elabore o orçamento
O seu projeto só pode sair do papel se tiver os recursos disponíveis. Mas quanto? Essa resposta será dada pelo seu orçamento. Um orçamento é o conjunto de despesas previstas para a execução de um projeto.
Coloque no papel TODOS OS GASTOS que o seu projeto necessitará para funcionar por um ano.
Orçamento
Quanto sua ONG custa para funcionar até o fim do ano?
Se você não sabe responder a essa pergunta, provavelmente não tem um orçamento anual fechado. Sem este orçamento, será praticamente impossível atingir uma captação de recursos sustentável.
Sem um orçamento anual, não há como saber QUANTO você precisa captar. Pode até se esforçar, tentar, buscar. Mas sem saber onde quer chegar, todo este esforço pode ser em vão e frustrante.
O que fazer para estruturar este pilar?
Hora de fazer o orçamento anual da sua organização!
Resumidamente, um orçamento é um documento com a previsão de quanto sua organização deve gastar para funcionar durante um ano.
Para descobrir seu orçamento você deve somar TODOS os gastos do período escolhido. Desde o aluguel da sede até o cafezinho que você faz durante as reuniões com voluntários. Tudo que gera gasto financeiro deve ser contado.
Vamos te mostrar como fazer esse orçamento em quatro passos.
Se quiser saber com mais detalhes sobre este assunto temos um post voltado exclusivamente para elaborar um orçamento para sua ONG.
Elabore o orçamento operacional
Para a maioria das ONGs, o orçamento operacional não é tão complexo – por contar com custos menos variados.
Mas o que são, exatamente, custos operacionais? São todos os gastos necessários para o funcionamento da sua ONG que não dependem da realização de projetos. Em outras palavras, são os custos que, se os projetos forem fechados, seguirão existindo.
Quer um exemplo? Contador. Este é um custo que existirá independentemente do número de projetos que você esteja executando.
Coloque no papel todos estes custos, do dia 1º de janeiro a 31 de dezembro.
Elabore os orçamentos de projetos
Se você já colocou seus projetos no papel, este passo é fácil: basta somar os orçamentos de todos os projetos separadamente para saber quanto será seu orçamento total de projetos no ano.
O orçamento consolidado
O quarto e último passo para chegar no seu orçamento final é o mais simples de todos: somar cada um dos orçamentos que você fez e descobrir qual o custo real da sua ONG para funcionar no próximo ano.
O orçamento consolidado nada mais é do que a soma dos orçamentos de projetos com o orçamento operacional. Simples, né?
Uma palavra final sobre a estruturação
Ufa! Foi um longo caminho até aqui, não é mesmo?
O importante é que você tenha conseguido concluir o tripé da estruturação da captação de recursos: um responsável por captar, projetos escritos e o orçamento anual finalizado.
Com todo esse dever de casa feito, pode ter certeza de que a sua organização está mais preparada para captar os recursos que tanto sonha!
Agora é hora de dar o próximo passo: planejar sua captação de recursos!
Que tal ler este guia sobre captação de recursos com a nossa metodologia de planejamento?