Você já teve alguma dessas dúvidas em algum momento?
- Como uma organização social ou ambiental, ou áreas corporativas de responsabilidade social e sustentabilidade, conseguem saber se o seu propósito está sendo cumprido?
- Como ter certeza do tamanho do impacto positivo que está sendo gerado?
- Como mostrar para investidores e doadores que o trabalho feito está dando resultados?
A resposta para essas perguntas é uma só: é preciso mensurar o impacto social.
Essa atividade é fundamental para qualquer empreendimento, afinal de contas, promover impacto é o produto final de toda ação socioambiental!
Por isso, se você quer saber como fazer a mensuração do impacto produzido pelas suas iniciativas, continue por aqui e leia até o final.
O que é impacto social?
“Impacto” se refere às transformações que acontecem a partir de uma ação. No nosso caso, mudanças socioambientais produzidas por um programa ou projeto.
De acordo com a definição do Idis, Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, “enquanto resultados se relacionam com as conquistas concretas, que, em geral, representam o alcance e a amplitude da iniciativa, o impacto pode ter uma natureza mais subjetiva – relacionado à ideia de transformação social.”
Mas, embora seja uma prática tão relevante, ela ainda não está presente no planejamento de todas as organizações e negócios sociais.
Para começar a mudar essa realidade, o primeiro passo é ter dimensão dessa importância.
Por que mensurar o impacto social é fundamental?
Vamos pensar juntos.
Partindo da premissa de que as organizações e os negócios sociais existem, por natureza, para gerar impacto positivo, faz todo o sentido entender se essa finalidade está sendo cumprida e o em que intensidade.
Temos que considerar, ainda, outro ponto importante.
A captação de recursos está diretamente vinculada a essas informações, afinal, doadores e investidores sociais precisam se certificar de que o capital está sendo aplicado em soluções que efetivamente geram benefícios.
Essa avaliação vai determinar questões importantes:
- guiar ações internas e estratégias, como por exemplo, contratar profissionais ou buscar mais voluntários;
- fazer mudanças nas atividades e processos, ou seja, replanejar, aperfeiçoar, corrigir, inovar;
- atrair e captar recursos externos de investidores ou doadores;
- justificar investimentos de todo o tipo de recurso, como pessoas, tempo, tecnologias e dinheiro;
- engajar os stakeholders ao mostrar o potencial do trabalho que está sendo realizado.
Agora, como seria possível tomar decisões acertadas a respeito de tudo isso sem consultar dados concretos? E como acessar esses dados sem um acompanhamento estruturado e sistemático?
Métodos e Ferramentas para Mensuração de Impacto
Não existe uma única fórmula para mensurar o impacto social.
O recomendável é que comece antes da implementação do projeto (levantamento de um marco zero com dados iniciais, os quais funcionarão como base de comparação).
Deve, então, ter prosseguimento durante a execução das ações e finalizar no longo prazo (preferencialmente após um ano ou mais da realização da intervenção).
Contudo, uma boa avaliação traz respostas objetivas para três perguntas:
O que fazemos?
Em geral, a mensuração vai se relacionar com os objetivos e a missão que movem o trabalho. Considerando isso, a medição pode contemplar alcance, crescimento, evolução qualitativa, entre outras análises.
Por que fazemos?
O monitoramento dos resultados acontece para atender a algumas necessidades: decisões estratégicas, planejamento, prestação de contas, transparência perante os stakeholders, gestão de performance, divulgação, engajamento. Você precisa considerar cada uma das demandas para garantir que, ao final, a resposta tenha sido medida.
Para quem fazemos?
Para quem os resultados serão apresentados? Comunidade? Voluntários? Beneficiários? Equipe interna? Parceiros? Sociedade? Doadores? Investidores?
Essa clareza será fundamental para a estruturação de todo o processo, algo que é feito a partir de ferramentas de mensuração. Entre os métodos mais usados estão a Teoria da Mudança e o SROI.
Teoria da Mudança
A Teoria da Mudança é uma metodologia muito comum no cenário do empreendedorismo social e ambiental para construir e direcionar projetos de impacto positivo.
Ela fornece a visão da transformação desejada e apoia no planejamento e na preparação para mensurar o impacto.
Na hora de elaborar uma Teoria da Mudança, você deve partir do propósito (impacto) desejado e, em seguida, estabelecer os caminhos para chegar até ele.
Os elementos que compõe esse plano são os seguintes:
- Insumos disponíveis e necessários;
- Atividades/ações para atingir o objetivo;
- Produtos;
- Resultado de longo prazo;
- Resultado de curto prazo;
- Impacto gerado.
Fonte: PUC-PR
SROI (Social Return on Investment)
O Retorno Social sobre Investimento é um modelo que avalia comparativamente o valor dos recursos investidos em um projeto com o valor social gerado.
Na prática, permite entender que a cada R$1 investido, foi gerado um valor X em benefícios sociais.
Diferente da métrica de ROI (Retorno sobre Investimento), usada em negócios sem foco socioambiental, o SROI está mais relacionado com valor social do que com dinheiro.
Em outras palavras, ele mostra transformações, não apenas números.
O cálculo dessa metodologia se faz a partir de três conceitos:
- foco nas mudanças reais (dados qualitativos);
- valor (atribuição de um valor considerando o grau de importância dada pelos beneficiários);
- impacto (a mudança visível e comprovada).
A intenção final é que a avaliação esteja fundamentada nas percepções e impactos sobre os stakeholders, principalmente os beneficiários.
Indicadores de Impacto: o que medir?
Seja qual for a ferramenta que você utilizar, serão necessários indicadores de execução e de desempenho. Eles nortearão os acompanhamentos conforme os objetivos estabelecidos.
Nesta hora, surge a dúvida “quais indicadores utilizar?”.
Quanto a isso, infelizmente, não existe uma resposta única.
O caminho a ser seguido é transformar os objetivos específicos em perguntas que vão originar dados, sempre as vinculando ao problema que se escolheu enfrentar.
Essa construção ajudará a entender como as ações estão se desdobrando e trarão a noção comparativa do que aconteceria se nada fosse feito.
Traduzindo: o trabalho está levando ao impacto que foi proposto ou não? E em que medida?
Como chegar aos indicadores
Imagine um projeto ou ação que se propõe a reduzir o nível de analfabetismo de uma região.
Podemos analisar dentro dele:
- questões quantitativas:
- qual era o percentual de pessoas analfabetas em relação à população local antes da intervenção?
- Qual foi o percentual da população analfabeta que passou a escrever no encerramento do projeto?
- Como esse número ficou em relação à meta inicial?
- Quantos passaram a ser leitores habituais?
- Quantos se matricularam em cursos regulares?
- Depois de dois anos, como se apresenta o percentual de analfabetismo na mesma localidade?
- e questões qualitativas:
- qual o nível de autoestima das pessoas depois do projeto?
- Qual o nível de interesse em dar sequência nos estudos?
- Quais transformações aconteceram nas famílias desses alunos do projeto?
Note que os indicadores garantem uma visão do que aconteceu ao longo do processo. Outros, indicam o legado do projeto, se houve mudanças estruturais ou de mentalidade no longo prazo.
Essa é a ideia.
A importância da precisão
Para alcançar todas essas diferentes visões, os indicadores devem ser pensados estrategicamente e serem o mais específicos quanto for possível.
Por exemplo, em uma causa que atue com empoderamento feminino, perguntas como “quantas mulheres foram empoderadas” não mede nem um resultado específico, nem o impacto gerado.
Afinal de contas, o que significa “ser empoderada”? É algo abstrato demais.
Qualquer avaliação depende de informações mais precisas, como:
- Quantas mulheres iniciaram o projeto e quantas chegaram até o final?
- Entre as mulheres que passaram pelo projeto, quantas conseguiram acesso a uma renda própria recorrente?
- Quantas afirmaram se sentir mais autoconfiantes depois da experiência?
- Quantas afirmaram ter aumentado a sua rede de apoio e conexões após o projeto?
- Quantas se inscreveram em outras formações profissionalizantes oferecidas na organização ou na comunidade?
- Como as beneficiárias descrevem o nível de autoestima após o projeto?
Desafios na Mensuração do Impacto Social
São vários os desafios relacionados à mensuração do impacto:
- falta de conhecimento a respeito da importância e necessidade;
- pouca expertise para a execução;
- limitações de ferramentas e metodologias;
- dificuldade em estabelecer os indicadores;
- falta de dados de partida para análises comparativas;
- e, até mesmo, qual tratamento dar à mensuração após ela ser finalizada.
Por essa razão, quanto mais conhecimento, maiores serão as chances de ter sucesso nessa missão.
Como avaliar e o que fazer com as informações?
Não raramente, ao final da mensuração, as informações não são observadas e utilizadas em seu máximo potencial.
O que precisa acontecer, diante dos resultados finais dos indicadores são movimentos como:
- analisar se os resultados correspondem aos objetivos e metas iniciais;
- verificar se os custos foram compatíveis com o impacto obtido;
- entender a dimensão do impacto e a sua relevância para a sociedade;
- identificar se há oportunidade de melhorias no projeto.
Essa avaliação, por sua vez, precisa se desdobrar em outras ações (as quais são definidas de acordo com o objetivo e o planejamento estabelecidos inicialmente):
- gerar relatórios de transparência e governança;
- reportar aos stakeholders;
- conquistar parcerias e novos investimentos ou doações;
- divulgar publicamente para gerar engajamento com a causa;
- planejar a expansão do projeto;
- influenciar políticas públicas.
As dificuldades presentes no caminho
Nós sabemos: não é um trabalho simples.
Acompanhar, medir e interpretar dados subjetivos e visualizar os impactos indiretos derivados de programas ou projetos é desafiador.
Bem como calcular a correspondência entre o impacto e o investimento que foi feito.
Tudo isso ainda considerando a necessidade de acompanhamento posterior ao final da intervenção – uma vez que o impacto nem sempre ocorre imediatamente -, manter os registros dos envolvidos e garantir que o contato não se perca.
Essas barreiras devem ser superadas com a escolha das ferramentas e dos métodos mais compatíveis com a realidade e os meios disponíveis de cada organização.
E também dependem de muita organização interna, comprometimento, bom planejamento e uma gestão de monitoramento permanente de todo o processo.
Conclusão
O impacto positivo de uma ação ou projeto não somente é a razão de ser de uma organização social, é algo que tem um potencial ainda maior, como influenciar decisões políticas, garantir melhorias para importantes dores da sociedade e mudar vidas.
Eis aí a necessidade de podermos visualizar o nível de relevância, eficiência, sustentabilidade e poder de transformação.
Mensurar o impacto social permite ver o verdadeiro valor do projeto, promover a transparência, tomar decisões assertivas e pensar em novas iniciativas para expandir esse impacto para um universo ainda maior!