A gente sabe que, como premissa, a filantropia é uma ação que não espera contrapartidas. Seja ela feita por indivíduos, empresas ou outras instituições – como fundações e institutos – trata-se de um capital “altruísta”.
- O papel do BTG como doador
- Promovendo impacto positivo interno e externo
- Como o apoio é feito
- A missão de potencializar resultados e impacto
- A formação de uma cultura de conexões
- O que desperta o desejo de apoiar um empreendimento socioambiental
- Oportunidades de fortalecer as organizações e negócios socioambientais
- A experiência de vivenciar ambos os lados
- O futuro do setor
Em outras palavras, diferente do investimento tradicional, o foco está na promoção de transformação, e não em algum tipo de resultado ou retorno.
Neste caso, por que uma empresa que emprega capital filantrópico desenvolve iniciativas para aprimorar e acelerar instituições que atuam diretamente com impacto positivo?
Bem, esse é o caso do BTG Pactual, o maior banco de investimentos da América Latina e parceiro da Ago em diversos programas de aceleração para ONGs e negócios de impacto. E a Juliana de Paula, diretora de responsabilidade social do banco, conversou com a Ago para contar um pouco sobre como desenvolvem esse trabalho.
Confira a partir de agora essa entrevista exclusiva, feita pela Camila Gino, editora-chefe da revista AGORA!
O papel do BTG como doador
A entrevista com Juliana de Paula começou com uma pergunta a respeito do posicionamento do banco junto às organizações e negócios socioambientais apoiados por eles.
Juliana de Paula: Como a nossa lente é mais para a filantropia/investimento social, a expectativa é o quanto as organizações sociais estão ajudando a resolver os problemas sociais, mudar realidades e gerar oportunidades.
Além disso, queremos ir além do apoio financeiro, queremos maximizar mais o impacto da organização, por exemplo, compartilhando o nosso conhecimento.
Promovendo impacto positivo interno e externo
Uma questão que sempre desperta atenção é como as empresas fazem a sua escolha pelas causas, pelos projetos, enfim, pelo impacto positivo que pretende gerar. Nossa entrevistada falou a respeito disso também.
Juliana de Paula: Na minha opinião, como empresa, temos uma responsabilidade maior em apoiar a sociedade.
Para o banco, em especial, é muito importante atuar com responsabilidade social e filantropia, porque é um benefício não só para a comunidade, mas também porque conseguimos compartilhar isso com nosso colaborador e cliente do banco.
Inclusive, nas decisões dos projetos, pensamos o quanto conseguimos envolver a organização em ações de voluntariado e outras iniciativas do BTG.
Juliana de Paula no encerramento do Programa BTG Soma Meio Ambiente
Como o apoio é feito
Juliana contou também a respeito de como os projetos estão estruturados dentro da área de Responsabilidade Social Corporativa do BTG.
Juliana de Paula: O banco apoia três causas, que são a educação, o meio ambiente e o empreendedorismo. No Brasil há muitos problemas sociais, mas escolhemos esses três para endereçar todo o nosso apoio. Isso está muito em linha com os valores, a missão e a cultura que vivemos em nossa rotina no banco. Pensando nessas causas, as organizações sociais têm um papel muito importante para resolver os problemas, só que elas não conseguirão fazer isso sozinhas.
Por isso, oferecemos apoio financeiro e apoio de conteúdo, de conhecimento. O apoio financeiro acaba sendo mais fácil, porque basicamente é fazer uma transferência bancária. Mas se você está no dia a dia com a organização com a intenção de fazer com que ela se desenvolva e aumente mais o impacto, é diferente, realmente se pretende mudar alguma coisa. Isso é o que acontece, por exemplo, com o BTG Soma, o programa de aceleração social no qual atuamos com a Ago.
Na nossa frente de incentivo fiscal apoiamos entre 40 e 45 projetos por ano, distribuídos em todas as regiões do Brasil. Quando falamos dos projetos próprios do BTG – temos o BTG Soma (programa de aceleração de organizações sociais focadas em educação, meio ambiente e empreendedorismo), um projeto de educação financeira para jovens e famílias em que apoiamos mais de 1.000 jovens em 2023 e o de mulheres empreendedoras de comunidades – em que impactamos mais de 100 mulheres.
Vale comentar que nos preocupamos em manter contato com as organizações que fazem parte e que fizeram parte de nossos projetos, dentro de uma grande rede.
A missão de potencializar resultados e impacto
Um aspecto que sempre destacamos na Ago é o fortalecimento das instituições e negócios do terceiro setor e setor dois e dois e meio. Nesse sentido, o trabalho do BTG se mostra alinhado com essa perspectiva de contribuir para os projetos ganharem robustez, perenidade e escala. Seria isso mesmo?
Juliana de Paula: Sim, totalmente. Talvez essa seja uma grande diferença da filantropia atualmente. O nosso interesse vai além de fomentar organizações sociais e empreendedores para que eles possam resolver problemas da sociedade.
Algo que fazemos com as organizações que o banco apoia é envolvê-las muito além do programa de aceleração. Não deixamos de falar com as organizações do BTG Soma. Elas são indicadas para clientes do banco ou parceiros que nos pedem essa recomendação.
Além disso, mantemos um programa de voluntariado com diversas ações e garantimos que essas organizações sejam beneficiadas por essas iniciativas. Por isso, acredito que mais do que receber alguma coisa em troca é entender o quanto a gente pode ir além, para que elas possam ir além também. Criamos uma rede.
Desde o ano passado [2022], temos falado muito sobre isso dentro do setor: a questão da colaboração. É preciso ser colaborativo, entre empresas e entre setores. O quanto podemos contribuir muito mais do que nos propomos no início? O quanto podemos envolver outros atores e o quanto as próprias organizações podem colaborar entre si?
A formação de uma cultura de conexões
Mais do que apoiar um projeto, o modelo adotado pelo BTG gera um ambiente favorável para os empreendedores se conectarem entre si e continuarem evoluindo. Juliana falou a respeito dessa dinâmica.
Juliana de Paula: Uma meta que eu trago constantemente para o banco é fortalecer o setor. Se não fizermos isso, essa agenda não acelera. Então, muito do que fazemos aqui é nesse sentido, para que o setor possa crescer e se potencializar.
Se nos perguntarem a respeito de uma grande meta, é fortalecer o setor e gerar confiança entre atores.
A confiança é construída ao longo do tempo, com essa via de duas mãos, na medida que os dois polos acabam se ajudando e sendo sinceros uns com os outros. Além disso, buscamos conectar e indicar organizações que estão em nosso portfólio social para parceiros, clientes e colaboradores.
Participantes da aceleração BTG Soma Meio Ambiente 2023
O que desperta o desejo de apoiar um empreendimento socioambiental
Existem fatores que fazem os olhos do filantropo ou investidor brilharem quando uma organização ou um empreendedor se apresenta. No caso do BTG, o que será que desperta essa vontade de querer estar junto, apoiar, desenvolver e acompanhar?
Juliana de Paula: A primeira coisa que eu faço, particularmente, é entender um pouco da visão da organização a respeito do que ela faz hoje e o que quer para o futuro. Notamos o quanto ela é muito assistencial e o quanto está pensando no macro, em um impacto maior.
O segundo ponto é o quanto ela quer trabalhar em colaboração. Isso é muito difícil, porque vejo projetos que falam muito sobre si mesmos, como se eles fossem resolver tudo. E, sim, eles estão resolvendo alguma coisa, mas acredito que se eles olhassem mais em rede poderiam ter um potencial muito maior.
Outro sentimento é sobre ver um empreendedor – e não me refiro ao empreendedor social, e sim, a liderança de uma organização social – vir preparado para conversar com uma empresa. É sobre pesquisar a empresa, entender o que ela faz e escutar. Às vezes, a pessoa chega a uma reunião e fala mil coisas. Porém, ouvir o outro e entender o que ele está buscando vai ajudar, inclusive, no pitch.
Também acredito que é preciso se posicionar e ter uma conversa de igual para igual com a empresa. Uma organização não é menos do que uma empresa. Quando se tem isso em mente, a conversa e a proposta fluem muito melhor, além disso, criam-se conexões.
Um último ponto é que talvez seja importante as organizações falarem sobre governança: como se tomam as decisões, quem está por trás, se existe um conselho, se tem um comitê. Tudo isso mostra muita seriedade. Falar também sobre transparência e prestação de contas. Se você transmite confiança, apresenta os seus números, mostra transparência e uma boa governança, a relação melhora.
Oportunidades de fortalecer as organizações e negócios socioambientais
Existe um espaço considerável entre os aspectos estruturais e de gestão das organizações e aquilo que as empresas podem oferecer para fortalecer esse desenvolvimento interno. Perguntamos à Juliana qual é o seu posicionamento perante essa questão.
Juliana de Paula: Assim como temos o SOMA, existem outros programas de aceleração social. No nosso caso, estamos oferecendo conteúdos que foram sendo adaptados na medida em que fomos conversando com as organizações para entender o que fazia sentido para elas e o que faltava de conhecimento para melhorar sua gestão. Isso, somado a toda expertise da Ago em desenvolver organizações e empreendedores sociais.
Uma organização com as ferramentas certas de gestão, com certeza tem tudo para crescer e expandir seu impacto.
A experiência de vivenciar ambos os lados
Juliana viveu a experiência de captação de recursos em uma organização, agora faz parte do lado da mesa que define a distribuição do recurso. Ela comentou a respeito de como esse olhar múltiplo é importante para o exercício da empatia e para a formação da rede de conexões que está sendo construída.
Juliana de Paula: Quem viveu o setor, quem esteve do outro lado, acaba tendo mais empatia quando vai para o outro lado da mesa. Ao mesmo tempo, é delicado porque quando você vem para o lado de cá, também precisa entender quais são os interesses da empresa que você representa. Então é um equilíbrio das duas coisas.
Porém, pelo fato de ter trabalhado com o terceiro setor, por conhecer as organizações – e eu tenho um projeto social também – existe mais sensibilidade para pensar “certo, como é que eu posso ajudar mais a organização?”.
Esse é um olhar que eu desenvolvi muito no Hospital Pequeno Príncipe [ONG de Curitiba (PR), onde atuou na área de captação de recursos]. Não que as pessoas que não tenham passado por essa experiência saibam menos, longe disso, mas eu considero importante essa vivência do outro lado para entender a realidade, o dia a dia e os desafios de uma organização social.
Leia também: Fundação FEAC: filantropia para transformar o futuro
O futuro do setor
Não poderíamos deixar de perguntar a respeito da visão de futuro sobre a atuação do terceiro setor e do ecossistema de impacto!
Juliana de Paula: Acredito que tende a crescer cada vez mais. Se olharmos as pesquisas de cultura de doação e do quanto as empresas atuam com ESG e se preocupam muito mais com seus impactos negativos, isso reflete diretamente no terceiro setor e nos negócios de impacto. Consequentemente, é um mercado que tende a crescer.
Estou há dez anos no setor. No começo da minha carreira, não ouvia tanto sobre filantropia, investimento de impacto, e ouvia pouco sobre sustentabilidade. Dez anos depois, vejo que essa agenda acelerou muito. Não tanto quanto deveria, mas já avançou muito e é um caminho sem volta.
Algo que eu gostaria que crescesse é o apoio direto ao desenvolvimento institucional das organizações, que a filantropia fosse mais colaborativa e que as relações entre investidor social e organização fossem mais próximas. Porque não adianta somente apoiar projetos, temos que apoiar o desenvolvimento da instituição.
Outro ponto é criar uma relação de empatia e escuta. Aqui no banco, por exemplo, no Soma, procuramos ouvir. O que a organização social tem a dizer? O que podemos melhorar no programa? O programa está bom para ela? Faz sentido ou não? O que está faltando? Essa escuta com quem está vivenciando o projeto e de quem está recebendo um apoio, tem que acontecer.
Outra frente que tende a crescer bastante futuramente é a confiança do setor para o trabalho em conjunto com as organizações. Da nossa parte, não nos consideramos detentores desse poder somente por possuirmos o recurso financeiro.
Do mesmo modo, da parte das organizações também. Elas precisam se abrir para escutar as empresas, conversar e ter uma mentalidade disposta a convergir para esse trabalho em conjunto em prol do impacto. Vejo no futuro se falando sobre uma nova filantropia, principalmente no que se refere a esse desenvolvimento institucional, com causas menos comuns e escuta ativa, confiança e colaboração.
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