O nosso país vive uma crise ambiental severa devido ao aumento expressivo das queimadas. Até o dia 14 de setembro de 2024, 70% das áreas queimadas foram de vegetação nativa, de acordo com o Monitor de Fogo, iniciativa do MapBiomas. Esse número reflete o impacto devastador sobre ecossistemas inteiros e sobre a vida das pessoas, especialmente em regiões vulneráveis onde acontecem as queimadas no Brasil.
Números que preocupam
Ainda de acordo com o MapBiomas, somente em agosto, um dos meses mais críticos, foram 5,65 milhões de hectares queimados, quase metade de toda a área devastada desde o início do ano. Essa extensão equivale a quase todo o estado da Paraíba, por exemplo.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), obtidos por meio da ferramenta BD Queimadas, mostram um aumento alarmante no número de focos de incêndio em 2024 em comparação a 2023. Na Amazônia, os focos saltaram de 45.922 para 91.588, representando um aumento de 99,44%. No Cerrado, os números passaram de 29.291 para 59.144, um crescimento de 101,92%.
A Mata Atlântica também sofreu um aumento significativo, subindo de 6.777 para 16.235 focos, com um acréscimo de 139,56%. O Pantanal registrou o maior aumento proporcional, indo de 525 para 10.655 focos, um aumento impressionante de 1929,52%. Por outro lado, a Caatinga apresentou um crescimento mais modesto, passando de 4.459 para 4.608 focos (3,34%), enquanto o Pampa foi o único bioma a registrar queda, com uma redução de 628 para 338 focos (-46,18%). O gráfico a seguir consegue ilustrar a comparação feita entre 2023 e 2024 no período de 01/01 a 14/09, respectivamente:
Fonte: BD Queimadas/Inpe. Organizado por SOS Amazônia.
As queimadas no Brasil e o impacto no clima
A degradação ambiental causada pelo fogo também afeta a economia local. Muitas famílias perdem suas plantações e criações, que muitas vezes ficam completamente queimadas. No Centro-Oeste, por exemplo, que concentrou 52% da área queimada entre janeiro e agosto de 2024, áreas de pastagens e formações campestres foram fortemente atingidas, com destaque para o estado do Mato Grosso, que sozinho registrou 21% de toda a área queimada no país.
A destruição de vegetação nativa e unidades de conservação, como o Pantanal e a Amazônia, gera desequilíbrios ecológicos graves. Além da perda de biodiversidade, as queimadas contribuem para o agravamento das mudanças climáticas, liberando grandes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera. Isso resulta em fenômenos climáticos extremos, como secas e enchentes, que afetam tanto o campo quanto as cidades, criando um ciclo de eventos climáticos que pioram a vida das pessoas em diferentes regiões.
As consequências para a população
A fumaça das queimadas tem um impacto significativo na vida das pessoas, especialmente nas comunidades que vivem nas proximidades dessas áreas afetadas. A inalação de partículas finas e poluentes liberados pela queima de vegetação pode causar uma série de problemas de saúde, como doenças respiratórias, alergias e agravamento de condições pré-existentes, como asma e bronquite. Além disso, a redução da qualidade do ar afeta não apenas a saúde humana, mas também a fauna e a flora locais, criando um ciclo prejudicial que compromete a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas.
Além dos efeitos diretos na saúde, a fumaça das queimadas contamina os chamados “rios voadores”, que são correntes de umidade que se deslocam pela atmosfera e são essenciais para a precipitação em diversas regiões da América do Sul, incluindo o centro-sul do Brasil. Quando essas correntes de umidade passam por áreas afetadas por queimadas, a poluição atmosférica se infiltra, alterando a composição do ar e prejudicando a formação de chuvas. Isso pode levar a uma diminuição na disponibilidade de água e a impactos severos na agricultura, na geração de energia e na manutenção dos ecossistemas, exacerbando a crise hídrica em várias partes da região.
Estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas tenham sido impactadas, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Ainda de acordo com a CNM, cidades como Corumbá (MS), São Félix do Xingu (PA) e Amajari (RR) estão entre as mais afetadas. No município de Corumbá, por exemplo, foram queimados 616.980 hectares em 2024. Esses dados mostram que as queimadas não se restringem a áreas isoladas, mas se espalham por diversas regiões do Brasil, colocando em risco a saúde, a segurança alimentar e o sustento de milhões de brasileiros.
O estado de emergência já foi decretado em 531 municípios, abrangendo grande parte dos municípios do Acre, Tocantins, Rondônia e Mato Grosso. Essas áreas vêm sofrendo com a devastação ambiental causada pelo fogo, e suas populações enfrentam o aumento da vulnerabilidade social. Sem a adoção de políticas eficazes de combate e prevenção às queimadas, esse cenário tende a se agravar, com impactos que vão desde a saúde pública até a economia local e a segurança alimentar.
A necessidade de ações urgentes
Diante desse panorama alarmante, é fundamental que haja uma mobilização conjunta entre governo, sociedade civil e organizações não governamentais para implementar medidas eficazes de prevenção e combate às queimadas. A conscientização da população sobre a importância da preservação ambiental e a promoção de práticas sustentáveis são essenciais para reverter essa situação. Somente com ações coordenadas e um compromisso real com a proteção dos nossos biomas será possível garantir um futuro mais saudável e equilibrado para as próximas gerações, preservando não apenas a rica biodiversidade do Brasil, mas também a qualidade de vida de milhões de pessoas que dependem desses ecossistemas.
REFERÊNCIAS
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. TerraBrasilis: Banco de Dados de Queimadas. Disponível em: https://terrabrasilis.dpi.inpe.br/queimadas/bdqueimadas/#graficos. Acesso em: 14 set. 2024.
MAPBIOMAS. Agosto responde por quase metade da área queimada no Brasil em 2024. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/2024/09/13/agosto-responde-por-quase-metade-da-area-queimada-no-brasil-em-2024/. Acesso em: 14 set. 2024.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS. Levantamento da CNM mostra situação crítica causada pelas queimadas em municípios do Norte e Centro-Oeste. Disponível em: https://cnm.org.br/comunicacao/noticias/levantamento-da-cnm-mostra-situacao-critica-causada-pelas-queimadas-em-municipios-do-norte-e-centro-oeste. Acesso em: 14 set. 2024.
Autor: Hugo Oliveira – Assistente de projetos do Programa de Áreas Protegidas e Conservação da Biodiversidade
Observatório de Políticas Socioambientais do Acre