Artigo originalmente publicado na revista AGORA, edição 5.
Na tranquila Ilha Grande, litoral do Rio de Janeiro, nasceu um negócio social com uma missão clara: promover impacto socioambiental positivo envolvendo a comunidade para combater a pesca fantasma, que polui os oceanos e ameaça a vida marinha. Assim surgiu a Marulho, fundada por Beatriz Mattiuzzo, a Bia, e Lucas Lopes Gonçalves, que transformaram um problema ambiental em oportunidade de impacto positivo.
De redes descartadas a produtos sustentáveis
A pesca fantasma ocorre quando redes de pesca são abandonadas no mar, continuando a capturar e matar milhões de animais e liberar microplásticos. A Marulho atua diretamente na interceptação dessas redes, em parceria com pescadores locais, evitando que elas continuem prejudicando o ecossistema. O impacto é duplo: preserva a vida marinha e gera renda para a comunidade caiçara.
Bia, oceanógrafa e cofundadora, e Lucas já estavam inseridos na Ilha Grande quando, durante a pandemia da Covid 19, decidiram transformar as redes descartadas em produtos como sacos de hortifruti e cadeiras de praia. Esse trabalho artesanal resgata técnicas tradicionais de costura de redes, mantendo viva a cultura dos pescadores enquanto promove a sustentabilidade.
Hoje o negócio não apenas oferece produtos sustentáveis ao consumidor final, vendidos através do site, como também atende empresas que desejam incorporar práticas mais ecológicas em seus negócios. Exemplo disso é a parceria com uma fábrica de tênis que substituiu as caixas de papelão pelos sacos de redes recicladas como embalagens.
Um mergulho no desafio de empreender com impacto socioambiental
Inicialmente, Bia e Lucas tiveram que entender como o impacto socioambiental poderia se alinhar a um modelo de negócio, equilibrando impacto positivo com a sustentabilidade financeira do empreendimento.
Desde o início, a Marulho buscou atuar em conjunto com a comunidade formada por pescadores nativos da região. Eles se tornaram parceiros fundamentais nesse processo, recolhendo e doando as redes e as transformando em produtos artesanais. Ainda assim, há desafios importantes.
O isolamento geográfico, que gera obstáculos logísticos e operacionais; o fato de nenhum dos membros da equipe ter experiência corporativa, o que exige mais tempo para compreender a linguagem e as demandas do público de empresas até despertar sua confiança; a necessidade de aumento da velocidade de produção, uma vez que todos os produtos são feitos manualmente pelos artesãos locais.
Porém, acima de tudo, o propósito permanece, ou seja, manter a consistência e a sustentabilidade do negócio é necessário, mas o impacto positivo sempre será a prioridade.
Aprendizados e crescimento
Refletindo sobre a jornada até aqui, Bia compartilha o conselho valioso de que é essencial desenvolver uma mentalidade de negócio desde o início. “Eu brinco com o Lucas que, se dependesse dele, a Marulho seria uma empresa; se dependesse de mim, seria uma ONG. Mas é preciso encontrar um equilíbrio entre resolver o social e manter a sustentabilidade”, diz.
Para finalizar, a empreendedora resume a essência da Marulho com uma conhecida metáfora: “Quando a maré sobe, levanta todos os barcos”. Assim, o trabalho segue com a missão de crescer beneficiando em conjunto a comunidade e o meio ambiente no seu entorno.Para conhecer outras histórias de empreendedorismo e acessar aulas e palestras para fortalecer o seu projeto socioambiental, clique aqui e faça parte da comunidade gratuita da Ago Social, o Mapa do Empreendedorismo Socioambiental. Encontre conteúdos que ajudam a superar os desafios da sua organização ou negócio socioambiental!