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ESG: Quem se importa, ganha?

ESG: Quem se importa, ganha?

Ago Social - anos do ESG

Não muito tempo atrás, antes do ESG fazer parte das pautas corporativas, eram raros os ambientes nos quais se pensava em questões como destinação de resíduos de produção, desenvolvimento de comunidades no entorno de plantas industriais, proporção de mulheres em cargos de liderança, presença de pessoas não brancas em todas as equipes de trabalhos, controle e transparência nas finanças, gestão humanizada e voltada aos direitos humanos.

Até que chegamos a um momento em que antes de decisões de compra, surgem certos comportamentos. Um investidor, antes de aportar capital, quer ouvir a respeito de estratégia, indicadores e processos internos. Um cliente pergunta sobre as condições de trabalho de quem presta o serviço oferecido ou a respeito da origem de uma matéria-prima. Um consumidor investiga o rótulo de um produto para atestar que nenhum animal foi usado para testes.

Como será que essa mudança aconteceu?

Existem algumas explicações. Uma delas foi a introdução do conceito de valor compartilhado, popularizado por Mark Kramer e Michael Porter, a partir do qual se pensa na união entre lucro e propósito e na adoção do famoso modelo “ganha-ganha” nas relações entre empresas e sociedade.

Outro fator que estimula esse novo nível de consciência a respeito de como os negócios interferem na vida das pessoas e no meio ambiente é o ESG.   

O que é, de onde veio, como se reproduziu

O termo ESG (em português, ASG: Ambiental, Social e Governança) foi usado pela primeira vez em 2004, em um documento do Pacto Global das Nações Unidas em parceria com o Banco Mundial. A publicação chamada Who care wins (Quem se importa, ganha), de acordo com o site do Pacto Global, surgiu de uma provocação do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.

Apesar do teor tão nobre, a proposta se manteve restrita ao setor financeiro até que em 2020 Larry Fink, CEO da Black Rock, a maior gestora de fundos de investimento do mundo, publicou uma carta ao mercado afirmando que as empresas deveriam apresentar, além de performance financeira, contribuições à sociedade. Somado a isso, emergências climáticas tomando proporções cada vez maiores e uma pandemia – da Covid-19 – intensificando crises sociais como fome, desemprego e dificuldade de acesso à saúde.

O contexto do ESG hoje

Embora muitos anos atrás algumas corporações já incorporassem às suas práticas e políticas internas olhares para os efeitos dos seus produtos e do seus processos de produção para a sociedade, as comunidades próximas da cadeia produtiva e o meio ambiente, a discussão ainda era muito restrita.

Falar sobre esses temas e agir a partir deles era algo positivo, vinculado à redução de riscos ou ao compromisso de responsabilidade socioambiental. Ao longo do tempo, com o amadurecimento dos mercados financeiro e consumidor, essas demandas passaram a ser requisitos para jogar o jogo dos negócios.

Essa é a opinião de Orlando Nastri, especialista em ESG, professor sobre o tema e head de ESG da Citrosuco no Brasil, maior produtora mundial de suco concentrado de laranja. “Estamos migrando para um cenário em que a transparência e as demandas por governança levam o ESG a um estágio ticket to play. É quando as empresas deixam de pensar em ações e processos voltados ao social, sustentabilidade e governança apenas como normativas de ESG para integrar como normativas de negócio”, considera.

Se quem se importa, ganha, o compromisso com o ESG está consolidado?

Entre especialistas de diferentes áreas do mercado os pontos de vista a respeito dessa resposta não são unânimes. Para Nastri, praticar responsabilidade socioambiental e governança transparente se tornou irreversível para as empresas, por fatores estruturais:

1.Lógica do mercado

O crescimento e a maturidade do tema são regidos pela lógica da oferta e demanda. Neste sentido, existem algumas camadas responsáveis por impulsionar os diferentes perfis de negócio em direção a compromissos inerentes ao ESG:

  • Na primeira camada o consumo é o ponto central. Trata-se da lógica de oferta e demanda seguida por pequenos empreendedores. Esse perfil precisa, cada vez mais, atender à expectativa e ao desejo do consumidor por produtos e serviços sustentáveis, pessoas que querem enxergar nas marcas que consomem soluções para o planeta e para a sociedade.
  • A segunda camada é formada por pressões regulatórias e do mercado investidor. Neste espectro estão as médias e grandes corporações, as quais sofrem essas pressões. “Esta é uma agenda central porque os negócios deste perfil [médios e grandes] têm uma tração regulatória, financeira e de reputação, já que os mercados investidores acreditam que as empresas sustentáveis operam melhor e são mais aptas a performar bem, em detrimento das que não atuam sob uma lógica esg”, diz Orlando.

2.Escassez de recursos produtivos

Qualquer forma de geração de renda e valor na sociedade requer uma extração de recursos, seja tangível ou intangível, para operar no mundo. Considerando que estamos vivendo uma escassez cada vez maior de recursos naturais e básicos para a geração de riqueza do planeta (recursos hídricos, naturais, minerais), isso se torna um fator crucial para não permitir que o ESG seja refreado. Orlando Nastri pondera a respeito dessa questão lembrando que “Precisamos continuar gerando dinheiro, renda, empregos e oportunidades. Só que com os recursos cada vez mais escassos e os reflexos naturais estão cada vez mais agressivos (extremos climáticos, degradações ambientais, aumento da pobreza) tudo isso também cria um ambiente irreversível. 

Diante dessa realidade, cuidar das comunidades e do planeta não é apenas uma questão de querer ou não, passa a ser questão de sobrevivência para esta e as próximas gerações.

Um caminho longo, mas com passos sólidos

Ao olhar pela janela ou acompanhar os noticiários com uma visão realista, fica claro que temas como preservação ambiental, direitos humanos, igualdade racial e de gênero são não apenas importantes, mas urgentes. Essas questões são vitais para a sobrevivência do planeta e a dignidade humana.

Valorização interior para a expansão externa

O Ambiental, o Social e a Governança deve ser cada vez mais visto como um gerador de valor. Não apenas de fora para dentro, pensando nos investidores e consumidores, mas também internamente, criando um ambiente onde os colaboradores se sintam valorizados, representados e com oportunidades reais de crescimento. Um cenário assim gera um ciclo virtuoso que se expande para além da empresa, alcançando famílias, fornecedores e comunidades. As práticas de impacto positivo, assim, se tornam uma responsabilidade compartilhada, indo além da consciência individual, e ganhando força com a observação crítica de colaboradores, clientes e da sociedade.

Os mercados precisam de um futuro viável para atuar

No fim do dia, manter condições climáticas adequadas e um mercado consumidor saudável são fatores cruciais para a sobrevivência de qualquer negócio. Por isso, o ESG deve ser visto como uma ferramenta fundamental para garantir essa sustentabilidade.

Para Orlando Nastri isso deve acontecer. Ele destaca que o ESG continuará sendo uma pauta central, já que as pressões ambientais e as regulamentações terão impacto cada vez maior nas decisões de negócios. Logo, a sobrevivência das empresas estará ligada a como elas se adaptam a esse ecossistema social, econômico e ambiental.

Uma nova cultura interna e intersetorial

Apesar das perspectivas de longevidade, o ESG precisa estar enraizado em todos os níveis da empresa, tem que ser visto como um valor central, uma prioridade para executivos, gestores e acionistas. Se o assunto for tratado como um custo, será uma das primeiras áreas a ser cortada em momentos de crise. 

Uma outra forma de sustentar essas práticas se refere a manter a interdependência entre setores — empresas, governo, terceiro setor e negócios de impacto. Com essas diferentes partes trabalhando juntas, criam-se sinergias para resolver problemas e gerar impactos significativos. 

Existe, também, o poder do ESG como cultura vinda desde os pequenos gestos: ações simples, como oferecer locais adequados para reciclagem ou implementar metas de diversidade, podem impulsionar grandes mudanças.

Para o empreendedorismo de impacto, oportunidades

Para se beneficiar do investimento vindo do ESG, existe a necessidade de desenvolver alguns aspectos para que a pessoa à frente de uma organização ou negócio de impacto esteja atenta e preparada. O conhecimento é fundamental, e ele ainda precisa ser ampliado.

‘Em uma pesquisa com quase 100 empreendedores sociais, a Ago identificou que mais de 60% sabem pouco ou nada sobre ESG, e 82% nunca se beneficiaram de iniciativas de impacto positivo das empresas. Compreender essas dinâmicas pode abrir portas para parcerias, patrocínios e contratos de prestação de serviços.

Mas a pergunta é por onde começar?

  1. Saber quais são os temas contemplados por cada um dos pilares ESG.
    1. Ambiental: preservação da biodiversidade da fauna e da flora, gestão de resíduos, uso e conservação de recursos naturais, emissões de carbono, sistemas agrícolas sustentáveis etc.
    2. Social: diversidade, inclusão, condições seguras de trabalho, direitos humanos, saúde mental, educação, programas de voluntariado, responsabilidade social voltada aos territórios, desenvolvimento comunitário etc.
    3. Governança: métodos de mensuração de resultados e prestação de contas, diversidade no conselho, comunicação aberta com consumidores, colaboradores e comunidade.
  2. Conhecer as estratégias ESG de empresas da sua região. Uma das formas de fazer isso é pesquisar os Relatórios de Sustentabilidade, de Impactou ou de ESG (normalmente são documentos públicos, disponíveis nos sites das empresas).
  3. Entender, a partir da sua atuação, de que forma é possível contribuir para os projetos ou compromissos das empresas (por exemplo, fornecendo produtos e serviços, oferecendo consultorias e palestras).
  4. Dialogar, propor alternativas e soluções, manter uma escuta atenta.
  5. Elaborar propostas e projetos estruturados e com claro valor agregado.

As ONGs e negócios de impacto podem ser aliados oferecendo apoio baseado na vivência diária das realidades. Conhecer de perto o território, os problemas e as pessoas é um produto valioso, indispensável para que as iniciativas corporativas de ESG funcionem e gerem mudanças concretas e duradouras.

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